terça-feira, 12 de abril de 2016

Ignoramos o que somos

Muitas vezes ignoramos o que somos, mas nem por isto conseguimos não ser o que ignoramos.

Inúmeras são as vezes que ignoramos o que somos para crer que somos aquilo que não ignoramos.

Diversas vezes ignoramos o que somos sendo reflexo direto daquilo que ignoramos.

E finalmente, em absoluto, somente não ignoraremos o que somos, quando o que somos não mais existir, posto que assim nada mais seremos, após a realização não experimentável do processo final de nossa morte mental.

Enquanto vivos, poderemos até nos conhecer como um invólucro opaco ao seu interior, poderemos até parcialmente remover esse invólucro, mas a caixa preta que nos dá suporte a existência, pelo menos por enquanto, é inviolável ao nosso real e total escrutínio, jamais saberemos realmente tudo o que somos, e jamais dominaremos tudo o que queremos e tudo o que faremos. Somos um mistério, inclusive, para nós mesmos.


#gotasdoreal

domingo, 27 de março de 2016

Corpo e mente

“Eu não tenho um corpo, eu sou meu corpo.” 
O corpo não é algo que eu tenha, o corpo é algo que eu sou.
Estas frases não são originalmente minhas, mas simbolizam claramente a forma como me vejo inserido no material de minha própria existência. O ser que me faz presente é mental (ou melhor ainda, os seres que me fazem presentes são todos eles mentais, por isso em última instância corporais), mesmo sendo o mental aparentemente etéreo, ele é não transcendental, não possui entidade própria, mas realiza sua presença imanente e sua existência como resultado imediato do complexo circuito neural, que físico, já é o meu corpo. O cérebro para existir necessita dos órgãos, dos terminais nervosos e assim de todo o corpo e de seus circuitos biológicos, necessita da química e da física imanente que nos permite a vida. Um corpo pode viver independente de um ser mental, mesmo sendo um corpo humano este pode viver sem a realização mental de pelo menos um ser subjetivo e que encarne a existência de uma pessoa, corpos biológicos podem existir sem o desenvolvimento de nada parecido com cérebro, mas sendo eu um ser mental, sendo eu um ser psicológico e subjetivo que povoa o universo do pensamento, da inconsciência e da consciência, sou corpo pois dele derivo e necessito diretamente para a emergência da mente que me dá vida humana e subjetiva. 

Tenho a impressão, algumas vezes, que meu corpo conspira para que eu não perceba que sou o próprio corpo, e muitas vezes é a mente quem conspira para que pareça absoluta e intangível, tentando me fazer perceber o corpo como algo relegável, algo de menor importância, algo como uma prisão temporária, mas o fato é simples, mente e corpo são unos e por muito tempo ainda o serão. A mente sempre precisará de um corpo, por menor que seja, onde possa realizar o processamento complexo de seu circuito cerebral. Pode ser que um dia chegue, no qual o próprio cérebro biológico possa ser também descartado, mas no mínimo, necessário será, que exista algo como um computador, digital, quântico ou mesmo biológico, para de forma imanente dar origem a mente, que assim dará realização ao ser que me constituirá como pessoa.  

#gotasdoreal

domingo, 6 de março de 2016

A natureza eu e você

A natureza pode “viver” sem minha existência. Eu posso viver sem você, e você pode viver sem mim, mas com certeza nem eu e nem você, juntos ou separados, podemos viver, existir, realizar nossas vidas sem a natureza... Afinal quem é mais importante, quem merece mais respeito, nós ou a natureza?


#gotasdoreal

sábado, 5 de março de 2016

Sou Insano

Sou insano quando penso que não o sou, em especial quando realizo o meu viver alienado da miséria que bate as portas de milhões.
Sou insano não porque ser insano implique em acreditar que a insanidade é a única condição mental que me permitirá conviver com a falsa santidade que cultivamos como nossa imagem, mas sou insano porque não me enxergando nos outros quase não vejo de verdade os outros, e assim não me reconheço como parte integrante da realização destes outros enquanto seres do devir social. Desta forma “perco” minha vida abrindo mão da transformação, da revolta, e do amor que constrói, trocando-os por um estado de horror onde teatralizamos nossa existência e fingimos que esta nossa existência não é parte ativa do teatro de horrores do desespero alheio.

É uma pena que eu não seja o último insano livre, pois a livre realidade da insanidade nasce e reforça-se da corrupção mental de nosso próprio ser que, de uma forma ou de outra, povoa a humanidade. Ser insano, e não ser o último deles é uma das poucas certezas que tenho, e basta olhar em torno de mim, basta perceber as sociedades humanas, o que fazemos aos nossos irmãos, a toda a vida e ao nosso próprio lar, nossa Terra, e também o que nos omitimos de fazer. Somente insanos se omitem de reconstruir nossas sociedades sobre bases mais humanas, onde a dignidade humana pudesse ser meta e alvo, caminho e destino, lugar comum e especial. Só insanos se destroem mutuamente, destruindo sua própria perpetuação, destruindo o planeta, destruindo a vida e destruindo assim a humanidade enquanto povo e enquanto sentimento.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Entre o humano e o animal

Gorila fêmea protegendo e amparando uma criança
desmaiada, que caiu em seu ambiente,
Entre o humano e o animal, algumas vezes mais pareço mesmo é um monstro, uma vez que para ser humano necessito ser animal, e que bom que sou animal, pois que somente sendo animal posso buscar minha humanidade, assim sempre serei um animal buscando meu ser social e humano.

Sou complexo, somos todos complexos, e desta complexidade mental, o que emerge é um ser psíquico plural, múltiplo, único enquanto ser, nas com uma identidade mental múltipla e transformável. A personalidade e as características do viver variam constantemente, horas de forma consciente e outras horas envoltas em total inconsciência, horas entendendo o que sou e outras horas sem sequer me conhecer, e o pior ainda muitas vezes sem conhecer que me desconheço, horas intencional e outras horas sem intenção, horas tendendo para humano (construído), horas tendendo para animal (natural), e o que é pior, horas tendendo a monstro vivente, que se acha humano.

domingo, 31 de maio de 2015

Pai, te amo

Pai, te amo (Texto escrito em 06 de março de 2013, enquanto meu pai estava em coma)

Convivemos tão próximos da morte que dela nos esquecemos. Como irmã siamesa ela está sempre conosco, se interpondo entre o presente que se vai e o presente que chega, e muitas vezes sequer a notamos. Num dia estamos bem, e no outro podemos já não mais estar.

Um dia meu pai está bem, e no outro está num CTI. Num dia ele está alegre, falante, apaixonado pelos netos, e no outro entregue nas mãos de médicos e de maquinário de suporte a vida.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Felicidade


Mais do que simplesmente buscar a felicidade, é necessário um compromisso pessoal nesta busca, é necessário alguma transformação, doação e muita transpiração.

Buscar a felicidade é mais do que um simples direito, é um dever humano.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Palavras

Palavras, o que possuem de sensacional, possuem também de perigosas.
A comunicação oral é algo por si só fantástica. A evolução, por múltiplos erros de cópia, e por vários caminhos, permitiu a seleção natural sucessiva de descendentes, nos quais ocorreram variações e adaptações, convergentes muitas vezes, que nos permitiu a capacidade de articular sons complexos e sob controle mental e, onde, ao mesmo tempo, propiciou uma evolução nos nossos circuitos neurais que permitiu alguma consciência, e assim o desenvolvimento da fala caminhou direto para uma capacidade de conversação e comunicação. Isto por si só já é estupendamente maravilhoso.